Nem acredito que tem uma semana que o Maurício não me liga... Bruno cansou de me avisar pra eu sair fora... Mas não consigo parar de pensar nele, no beijo, no sorriso, no olhar... Uma perfeição divina... Meu coração sente um aperto sempre que penso nele, uma sensação de perda que invade meu ser, mas perder o que? Se nunca foi meu. Queria que pelo menos uma vez, eu pudesse gritar: isso aqui é meu, está no meu domínio. Mas não posso, ele apenas me usou, como se usa uma meia, no segundo dia ela já parece fedida e não serve mais. Meu celular nunca ficou descarregado, sempre com torre, esperando qualquer movimento que me diga onde e quando Maurício quer me ver. Ele foi sincero, disse que tinha namorada... Isso me faz sentir especial. Estou no páreo... Estou ganhando. Talvez se eu tivesse sido um pouco mais ousada no primeiro encontro, ele tinha me ligado. Sei que homens adoram essas coisas... Mas às vezes me sinto travada, como se meu corpo não tivesse poder algum sobre minhas atitudes. Isso dificulta minha linha de pensamento: Que os homens querem mulheres assim... Ingênuas à sociedades e ousada na cama. Sim... Eles querem mesmo esse tipo. Eu sou o que sou, cada dia um pouco mais de mim se vai, eu me modifico, me atrapalho, me enfeito com um novo rótulo... Tudo isso pra provar que sou eu mesma, talvez o ser humano seja assim neh... Inconstante, mutável e pacífico ao erro.
Preciso me recompor e aceitar que ele não vai ligar:
Tuhhh tuhhh...
Meu Celular tocando... Nossa é o Maurício... Será que atendo? Não posso transparecer que estava esperando... Mas quem liga? E se minha oportunidade passar... E se eu perder esse homem?
- alô
-Ana?
-Sim? Maurício?
-Sim Ana... Como vai linda?
-Vou bem e você?
-Estou com saudade de ti, saudade dos teus beijos.
-A é?
-Claro, e porque não sentiria falta de uma boca tão gostosa como a sua? Quero continuar de onde paramos Ana.
-Mas e sua namorada?
- Alice? O que que tem Ana? Você não vai ser careta agora neh?
-Imagina... Só não quero te dar transtorno.
- Ana, hoje às 20 horas... Te espero em frente a seu condomínio...
- Ok Maurício.
Nossa, vou vê-lo... Ele, ele... Mas por que não me ligou antes? Que importa neh, me ligou agora e quer me ver, isso prova que sou importante. Hahaha... Ana... Como você pode se contentar com tão pouco... Acha mesmo que ele se importa contigo? Ele só quer curtir, e pra isso você serve. Nossa! Que cruel pensar assim? Se ele não sente nada por mim, também não posso dizer que ele sente amor por ela, por Alice... Não... Se ele a amasse não a trairia. Mas quem sabe ele me escolhe? Veja que sou muito mais interessante que ela. Meu coração se sente apertado quando penso nisso... Estranho... Me sinto um “nada”. Mas, por que mesmo assim não paro de pensar nele, porque não ligo agora mesmo dizendo que não vou? Ou melhor, pra que ligar... Basta simplesmente eu não descer o elevador às 20 horas.
Sentei em frente ao PC... A internet estava sem vida pra mim, nem o MSN tinha graça... Não tinha cabeça pra pensar em mais nada além de Maurício. Twittei:
“Pensar em você me faz sofrer... será que você não percebe isso?”
Em menos de um minuto me responderam:
“Isso porque você sempre pensa na pessoa errada”
Era o Bruno... rsrsrs... Meu amigo... Me conhece mais que eu mesma... Talvez ele tenha razão... Eu sempre penso nas pessoas erradas... Mas como saber quem é a certa? Ninguém tem selo de qualidade neh... Mas dessa vez eu extrapolei... Estava escrava de um sentimento tolo... Sem sentido pra Maurício... E o pior de tudo... Eu nem podia culpá-lo por isso... Ele não me pediu nada e não escondeu Alice de mim.
19 horas e eu fui tomar banho... Debaixo do chuveiro a água descia lentamente pelo meu corpo... Água gelada... Pra espantar os monstros. Pensei em que roupa usar, hoje quero estar fatal, quero que ele olhe pra mim e veja tudo o que ele pode ter ou perder. Acho que aquela calça jeans que comprei no mês passado... Sim... Vai ficar legal, agora que perdi uns quilinhos... Hum... Blusa... Acho que vou de preto de novo... Eu adoro preto... E pra complementar vou usar os brincos de argolas que ganhei de minha mãe. Demorei uns 20 minutos na frente do ventilador... Pra secar meu cabelo, justo hoje meu secador não quis funcionar... xiii... Não gosto desses sinais de azar! Hehehe... Até parece que sou supersticiosa. Exatamente às 19h50min eu já estava pronta e olhava todo minuto pela janela, queria ver o carro dele chegando antes de descer... Ai Maurício... Por que justo eu? Por que só eu passo por isso? Será que sou idiota demais?
É ele... Desci depressa... Minha mãe tentou perguntar umas coisas, mas eu não dei ouvido, apenas desci e só ouvi um grito dela pedindo pra eu não chegar depois da meia noite. Mãe acorda... Quem sai com um gato desses e chega cedo em casa? Hahaha... Estou animada, posso dizer que talvez feliz... Afinal eu ia estar com ele... E naquele momento ele seria inteiramente meu! De longe eu já o avistei saindo do carro, e como de costume, lançou o mesmo sorriso lindo.
- E aí Ana? Boa noite!
- Oi garoto! Você é sempre pontual assim?
-Nem sempre... Só para as coisas que realmente me interessam.
-Nossa! E tem sempre essas frases feitas na manga pra conquistar meninas inocentes como eu?
-Frases feitas não Ana, Apenas sei o que quero!
-Sério? E o que você quer?
-Passar a noite inteirinha com você.
Ele me puxou e antes que eu dissesse algo me beijou. Entramos no carro, passeávamos pelas ruas, rindo e brincando, ouvindo música, tudo perfeito, já nem me lembrava de Alice, me sentia única e necessária... Hahaha... Doce ilusão que durou pouco. Em menos de uma hora que estávamos juntos o celular dele tocou... Era uma mensagem... Eu não sabia ao certo quem era. Ele pegou o celular e olhou, deu um sorrisinho e respondeu a mensagem. Meu sorriso desapareceu, fui invadida pelo vazio. Será que ela Alice? Ele pareceu feliz com a mensagem. Relevei... Tentei fingir... Tentei ser natural... Continuei conversando.
- Vamos para o Jôfe?-Ele me perguntou.
Jôfe é um barzinho famoso... Sempre tem muita gente e música ao vivo. Bom! Se ele quer ir até esse bar é porque não tem vergonha de me exibir por aí.
- Claro! Ótimo lugar.
Ele estacionou o carro uma quadra antes do bar. Saímos e fomos andando até as mesas... Ele não segurou minha mão... Mas não me importo... Natural, neh Ana? Sentamos e conversamos um pouco mais... Nossa! Como era agradável estar com ele... Gostávamos de muitas coisas em comum. Tudo ia bem até que o celular dele tocou mais uma vez. Que inferno! Só pode ser ela! Novamente ele deu um sorrisinho e respondeu a mensagem. Eu não consegui disfarçar minha irritação. Ele percebeu. Mas também, o que posso fazer? Não posso negar... Não posso negar que fiquei abalada com isso! Será que ele não imagina o quanto isso me magoa? Mas não posso ter certeza se é realmente ela. Olhando para meu rosto que não sorria mais, ele disse:
- Tenso...
- Tenso não! Se não fosse cômico seria trágico, pena que a palhaça... Sou eu!
Ele não disse mais nada sobre isso, mudou de assunto e agiu normalmente, isso prova que ele tem consciência do quanto isso me chateou. Pouco tempo depois um colega dele chegou até nossa mesa e nos cumprimentou. Ele me apresentou como uma amiga.
- Mas me diga Maurício... Como vai Alice?- perguntou o colega.
- Tudo bem... Mais linda que nunca! Hahaha
- Você é um cara de sorte! Mas e sua amiga... Já teve o prazer de conhecê-la?
- Não... Ainda não, mas em breve vou apresentá-la, neh Ana?
- Sim, não vejo a hora.
Caralho! Será que ele descobriu isso sozinho? Ou eu tenho um selo na testa, escrito: IDIOTA? E esse garoto? Qual é a dele? Por que ta aqui perguntando da outra, não percebeu ainda a situação? Eu sentia meu corpo tremulo, era raiva? Era tristeza? Não sei... Acho que um pouco de tudo... Era mágoa. Era sensação de pouco, de pequena. Com meu ego ferido eu ainda sorria e apresentava naturalidade. Mas Maurício percebeu que algo estava errado comigo. O colega dele saiu. Eu olhava fitamente para Maurício. Queria gritar, queria xingar aquele filho da puta! Mas não podia! Esse sentimento era só meu. Maurício não poderia entender o que eu sentia.
- Ana... Vamos dar mais uma volta?
- Sim vamos.
Voltamos para o carro, agora sim ele segurou minha mão, me beijou mais um pouco, ligou o carro e saímos.
- Ana... Não quer ir pra outro lugar comigo?
- Hum... Tipo?
- Dorme comigo hoje Ana?
Sinceramente... Minhas pernas ficaram bambas... Sei que não é essa frase que ele quis me dizer, traduzindo: ”Vamos transar?” Eu brequei meus pensamentos... Respirei e disse:
-Tem idéia de onde faríamos isso?
-Você pode escolher o hotel ou motel, se preferir?
-Você que sabe, não conheço muitos.
Dei um sorrisinho meio sem graça... Estava constrangida, triste e afoita... Tudo ao mesmo tempo... Misturado... Assim... Do jeito Ana de ser.
Fomos para um hotel... Próximo a minha casa... Ele pediu um quarto de casal... É claro neh... O quarto era muito bonito, paredes salmão, cama grande, lençóis de seda azul, colchão macio, frigobar com bebidas, toalhas brancas e bem fofinhas, banheiro confortável com banheira... Sim... Ele não economizou... Assim que a porta fechou, ele segurou em minha cintura e sussurrou em meu ouvido:
-Em fim... Sós.
Meu corpo arrepiou, só de sentir o hálito quente que saía de sua boca. Suas mãos deslizando intensamente pelas minhas costas, minha boca sendo sufocada pelos lábios macios de Maurício. Me jogou na cama... me envolveu... Me despiu... Despertou meus instintos... Me deu prazer.
Depois de algumas horas... Ainda despidos... Deitamos... Cansados... rsrsrsrs... Ele abriu o braço, acomodei meu corpo junto ao dele... Ele adormeceu. Minha mente não parava de pensar... Fiquei acordada por horas... Estava feliz... Estava triste. Mais uma vez... O celular de Maurício tocou... Outra mensagem. Pensei em não ler... Mas, esconder a verdade de mim mesma poderia ser ainda mais doloroso. Decidi ler:
“Amor... cheguei bem... já estou na casa do meu pai. Voltarei em breve bebê.” (Alice)
Então... É por isso que ele veio dormir comigo... Ela não está na cidade. Vou ler as outras, será que era ela incomodando a gente o tempo todo?
“Bebê, não sei quanto tempo vou ficar sem você... não me esquece viu?” (Alice)
“Esquecer você? Jamais... você é a mulher da minha vida” (Maurício)
“O que ta fazendo agora amor? Você está demorando responder minhas mensagens” (Alice)
“Estou numa reunião chata... você sabe neh bebê, não posso deixar meu pai na mão. Ele confia em mim.” (Maurício)
Ah! Claro... Agora eu virei uma reunião chata.
“Ta bem... eu sei... assim que eu chegar, te aviso. Me liga amanhã? Boa noite. Te amo!” ( Alice)
“Boa noite bebê, amanhã te ligo sim, também te amo!” (Maurício)
Não consigo entender... Ali comigo... Na minha frente... E dizendo essas coisas pra outra? Deve estar de brincadeira. Olhei bem para o rosto de Maurício... Dormia... Jeitinho sensível e inocente... Mas era um demônio que estava ali... Um demônio que não podia sentir o peito sufocado, as mãos frias, o nó na garganta, a sensação de impotência e solidão, de fraqueza e de medo, de insuficiência e inferioridade. Sim... Quem sentia isso era eu... Apenas eu!
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